Pesquisadores registraram em vídeo raras imagens de onça-pintada no sul do Espírito Santo. Os registros obtidos por armadilhas fotográficas confirmam a presença da espécie no Monumento Natural Estadual Serra das Torres (Monast). A presença da onça-pintada na região é totalmente inesperada, uma vez que há 27 anos não se tinha notícia dessa espécie fora do Complexo Florestal Linhares-Sooretama, no norte do Estado, o que a torna criticamente ameaçada de extinção no Espírito Santo.
A Unidade de Conservação (UC), sob gestão do Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), é apoiada pela Vale, por intermédio da Reserva Natural Vale, em Linhares, e o trabalho de monitoramento envolve diferentes instituições, como Iema, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recurso Naturais Renováveis (Ibama), Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e Universidade Vila Velha (UVV).
A pesquisadora e professora da UVV, Ana Carolina Srbek de Araujo, que é coordenadora do Projeto Felinos, ressaltou que esse registro é muito importante para a conservação da onça-pintada. “Temos uma população vivendo em uma condição limitada atualmente no Espírito Santo, com risco de extinção no médio-longo prazos. Conhecer a origem, o comportamento e as interações ecológicas que esse animal está estabelecendo, na região do Monast, pode nos ajudar a traçar estratégias para a conservação da espécie não apenas no Estado, mas também em outras porções da Mata Atlântica, onde a situação deste grande predador também é crítica”, afirmou.
Para o servidor do Iema e gestor do Monast, Guilherme Carneiro, a presença das onças é uma oportunidade de conservação. “É como se a natureza nos desse uma nova chance para mostrar que melhoramos no convívio com ela e que agora podemos fazer diferente. É motivo de orgulho, mas também de grande responsabilidade termos esses animais nesse território e a conservação deles não depende só dos órgãos ambientais, mas de toda sociedade”, disse.
O Iema e as instituições parceiras estão mobilizando a comunidade e debatendo ações para promover a convivência e permitir a sobrevivência não só da onça-pintada, mas também da onça-parda, também registrada recentemente pelas armadilhas fotográficas. Além de utilizar materiais de educação ambiental e fazer a divulgação de informações por mídias sociais, uma das estratégias tem sido a realização de visitas às propriedades rurais e a promoção de reuniões com as comunidades. Duas reuniões já foram realizadas, sendo uma em Atílio Vivácqua e outra em Mimoso do Sul, com uma próxima prevista para o município de Muqui.
O veterinário e analista ambiental do Ibama, Vinicius Seixas, explicou que como os grandes felinos são predadores de topo de cadeia alimentar eles têm um importante papel de promover o equilíbrio ambiental, controlando a populações de outros mamíferos. O analista explicou ainda que o risco de ataque aos humanos pelas onças é muito baixo, uma vez que não há nenhum registro de ataques em toda Mata Atlântica.
“O risco de outros tipos de acidentes em atividades corriqueiras do dia a dia que são próprias do homem do campo é muito mais preocupante que os ataques por onças. Risco maior existe para animais de criação que podem ser predados por estes felinos. Por isso, é muito importante que as presas naturais da floresta, como pacas, catetos, capivaras, queixadas, veados e tatus, sejam conservadas”, disse.
Os monitores ambientais contratados para atuar na unidade de conservação pela parceria com a Vale desempenham um importante trabalho na conscientização e na orientação da comunidade diariamente, bem como na coleta de informações e vestígios sobre a atividade da onça-pintada na área do Monast.
Proteção de ecossistemas
As armadilhas fotográficas foram instaladas, por meio do Acordo de Cooperação Técnica nº 003/2020, estabelecido entre Iema e a Vale para o apoio nas atividades de proteção ecossistêmica de unidades de conservação no Espírito Santo, em 2020. Além do Monast, que engloba os municípios de Atílio Vivácqua, Mimoso do Sul e Muqui, também foi beneficiada a Reserva Biológica Duas Bocas, em Cariacica.
O acordo tem vigência de cinco anos, período em que os mais de 13 mil hectares, somando-se às áreas das duas unidades, serão beneficiados com investimentos de cerca de R$ 6,2 milhões. O convênio prevê a doação de bens e a prestação de serviços voltados para a proteção dessas unidades, com o objetivo de resguardar a floresta da exploração predatória e de realizar ações de sensibilização ambiental, prevenção e combate à caça e ao incêndio, entre outras.
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